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onhecendo
a Basílica parte 9 - “Sob o olhar dos capuchinhos”
(final)
Continuando nossa jornada,
estamos em 23 de março de 1926. Em uma bela noite é
celebrada a primeira missa, presidida por Frei Manuel de
Seregnano (pároco do Embaré), e está inaugurada a Igreja
Matriz de Nossa Senhora da Pompéia, fruto de grande
esforço de toda a comunidade católica Santista, em
especial do Embaré, onde, nesse período, inúmeras festas
e eventos se destinaram as obras de construção desse
templo. Essa obra marca o início das profundas
transformações que a recém criada Diocese de Santos
promoveria em suas igrejas, capelas e áreas
territoriais.
De fato, algo que se pode
afirmar, sob análise, é que nunca foi intenção dos
frades a demolição e construção de um novo templo, mas a
explosão de crescimento da orla de Santos no início do
século XX, especialmente entre 1910-1920, acaba por
criar uma situação complicada de se sustentar, e o
sucesso da construção da Igreja da Pompéia, e o ânimo
que toma conta dos fiéis católicos, coloca os
capuchinhos em um dilema.
Essa grande obra, planta a
idéia da construção da nova Matriz do Embaré, e une
embrionariamente os dois templos, que, não por
coincidência, são em estilo Neogótico. Na verdade,
poderíamos destacar várias semelhanças: além do estilo,
o acabamento em massa raspada (embora a Pompéia hoje
esteja pintada com tinta acrílica), e o mesmo ritmo de
envasadura nas laterais em vitrais multicoloridos, ambas
possuem adornos em concretos idênticos (oriundos dos
mesmos moldes). Agora não é de se estranhar, uma vez que
os frades ajudavam nas obras, mas ambas são fruto do
mesmo construtor Carlos Reger, responsável por muitas
reformas na capela do Embaré, ele foi o responsável pela
construção de ambos os edifícios.
Sim, a Igreja do Embaré e
Pompéia tiveram o mesmo construtor, mas ele não é autor
do projeto. Sabemos que a antiga capela era de autoria
do Maximilian Hehl (famoso arquiteto da catedral da Sé,
em São Paulo e Santos), com a fiscalização arquiteto
Edmundo Krug, no livro “memória da arquitetura de Santos
no Papel II”, da Fundação Arquivo de Memória de Santos,
ficou registrado o nome de ambos, mas, para o Projeto da
Nova Matriz do Embaré, foi contratada a empresa
E.Kemnitz & Cia. Ltda, com sede no Rio de Janeiro.
Não há muitas explicações de
porque, nem como os frades chegaram à esse versátil
engenheiro, sabemos que o Maximilian não era uma opção,
afinal ele faleceu em 27 agosto de 1916; outro nome
possível era de Ramos de Azevedo, o construtor do
mercado municipal de São Paulo, que projetou a igreja
Nossa Senhora de Lourdes de Botucatu, dos frades, em
1918, contudo por volta desses anos o genial arquiteto
pouco trabalhava, e veio a falecer em 1928. E, por
motivos que não temos como confirmar (só especular), a
escolha foi a companhia E. Kemnitz, do qual pouco
sabemos.
“Aparentemente”, conforme a
Fundação Arquivo de Memória de Santos, ele é o autor da
Igreja da Pompéia também (a verificar), mas o que
sabemos de fato é que da Basílica não há dúvidas, porque
todas as plantas remanescentes são de sua autoria (as da
Pompéia são do Reger). E. Kemnitz era Erhard Kemnitz (o
nome completo era Wilhelm Sigesmund Arthur Erhard
Kemnitz), um extraordinário engenheiro civil que tinha
como especialidade o concreto armado. Na sua
especialidade reside a escolha, porque ao que consta a
Basílica do Embaré se tornou naquele momento o maior
prédio com vão livre de concreto armado na América
Latina.
Kemnitz, nos anos de 1920,
projetou e construiu dezenas de obras no Brasil, em sua
maioria de grande porte, e todas com alto nível de
complexidade, e em concreto armado. Vale destacar
aquelas que mais se falam, dentre as quais a ponte
internacional Barão de Mauá, que une Brasil e Uruguai
sobre o rio Jaguarão, uma belíssima proeza de
engenharia, onde, no interior da ponte, passa uma
estrada de ferro que compõem o complexo ferroviário de
Passo do Barbosa a Jaraguão. Na parte superior, para
veículos, existe um belo conjunto arquitetônico em
estilo neoclássico, também em massa raspada (outra das
preferências do engenheiro é o emprego de massa raspada,
como massa de revestimento das fachadas).
Um outro famoso trabalho da
E.Kemnitz & Cia. Ltda é o prédio em estilo art déco, no
centro de Salvador, também em concreto armado, para as
instalações do Jornal da Tarde da Bahia, inaugurado em
28 de julho de 1928, além da famosa façanha de
engenharia que é a represa de Rio das Pedras, em Minas
Gerais, para a hidrelétrica de Rio das Pedras, em
Itabirito, que pertence a CEMIG (inclusive, no youtube,
existe um vídeo de inauguração da represa, no final dos
anos 30).
Bem, o projeto da Basílica
foi apresentado à prefeitura de Santos em 1928, e previa
um belo prédio neogótico, muito diferente do que temos
hoje. O projeto sofreu todo tipo de alteração, no
decorrer das obras, a execução foi autorizada, os
valores da obra definidos e o entusiasmo era grande,
porém um enorme problema se apresentou, impedindo o
início imediato das obras, e adiando em mais de 2 anos o
seu começo, contudo essa confusão (o maior imbróglio da
história da Basílica) é um assunto para o próximo mês.
Danilo Brás
conservador
- restaurador da Basílica do Embaré
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