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Conhecendo
a Basílica parte 6 - Gastão de Moraes um padre na Belle
Époque (final)
Encerramos nosso último
artigo, com a última reforma da capela, em 1915>. Essa
reforma, projeto de Maximilian Hehl, transformou a
capela em uma verdadeira igreja. Padre Gastão continua
com suas atividades rotineiras, dando aulas na escola de
aprendiz de marinheiro, e com os serviços da capela, que
cada vez mais se avolumam.
Nessa época começam a
aparecer os primeiros problemas com a personalidade do
padre. No início dos anos 20, no livro tombo da Catedral
de Santos, começam a surgir os primeiros indicativos do
descontentamento com a presença do padre (pg 38v);
ficaram registradas queixas, e até considerações para
sua remoção. São alegadas várias situações, mas o que
especialmente levou a esse desgaste, foi sua
personalidade. Para piorar a situação, existem
ocorrências públicas expostas nos jornais, tem todo tipo
de confusão, iniciando em 1912, mas o mais conhecido
caso da época foi a briga com o vereador Samuel Baccarat
(1923), que depois de muito bate boca, chegou às vias de
fato com o padre, se defendendo com um chicote em punho.
É exatamente nesse período
que o padre irá fazer a doação de parte do terreno
original da capela para prefeitura, especialmente parte
do terreno lateral direito e esquerdo para abertura das
ruas (1917 e 1920), e da frente para a construção da
praça, anos mais tarde será essa doação que irá impedir,
por alguns anos, a construção da nova basílica.
Não sabemos em que momento,
realmente, foi tomada a decisão de retirar o padre da
capela, mas sabemos que os primeiros contatos com os
capuchinhos partiu da própria cidade de Santos, e que o
Bispo Diocesano de São Paulo, D. Duarte Leopoldo e Silva
acena positivamente, e vê com bons olhos a idéia da
Missão Capuchinha Trentina assumir a capela, uma vez que
os Capuchinhos tem um grande histórico de reformadores
(sendo por longos anos, no século XIX, os formadores do
clero paulistano, trabalhando arduamente do seminário
episcopal da capital), e são conhecidos pelos seus mais
AUSTEROS princípios e valores Católicos Cristãos.
Mas a saída do padre não foi
fácil, logo de início foi pedido uma indenização pessoal
para sua saída, os capuchinhos não tem nem a intenção
nem meios de pagar o valor de 25:000$000 (vinte e cinco
contos de réis), e pedem ao D. Duarte que faça padre
Gastão ver que a capela, e tudo mais que ela possui,
pertence a comunidade que ajudou a construir e reformar.
O Bispo, então, orienta os frades que façam qualquer
sacrifício para assumir a capela, e que não tem a
intenção de causar mais atrito na já desgastada
situação, revelando sua intenção de transformar o local
em uma
paróquia (o que ocorre em 1922).
A missão dos capuchinhos
assume, então, um empréstimo nesse valor, com o Sr.
Affonso Roveri, um amigo dos frades (anos mais tarde
frei Guilherme Sonego me contou que era pai de um
ilustre frade da Província), e com essa importância, os
frades pagam o padre Gastão, que assina um recibo, para
a missão, com a renúncia sobre a capela e demais bens
que nela poderia possuir.
Munido desse dinheiro, o
padre começa seu novo projeto, a construção de um
hospício para presos loucos, e pobres que apresentem a
mesma condição médica, conhecido como instituto Santa
Emília. Ele aciona todos os seus mais ilustres
conhecidos para participar dessa nova etapa, continua
com suas aulas, mas cada vez mais foi notícia de jornal.
Em março de 1927, ele publica uma carta aberta no “A
Tribuna” de Santos, fazendo duras críticas ao Bispo
Diocesano de Santos, D. José Maria Parreira Lara, e com
esse ato deixa a diocese de Santos.
O hospício nunca chegou a ser
inaugurado, foi gasto mais de 200:000$000 (duzentos
contos de réis); o prédio esteve a vias de inaugurar em
1927, mas vários problemas impediram a inauguração. O
caso se arrastou, e, em 1930, acabou sendo abandonado,
padre Gastão recebeu a quantia de 250:000#000, pelo
prédio e o terreno de 15.000 metros. Em 1937, novamente
tentou-se terminar esse hospício, sem sucesso.
E de forma nostálgica, essas
são as últimas notícias sobre o padre Gastão de Moraes
em Santos. Para história do Embaré, seu legado é de
grande construtor e agente transformador. Foi o homem
certo que o momento pedia, cheio de virtudes singulares
e contradições, mas que abrilhantou a história da
basílica gravando seu nome, e que nunca será esquecido
pelos seus feitos.
No próximo mês falaremos da
chegada dos Capuchinhos Trentinos, o terceiro pilar
histórico da Basílica do Embaré.
Danilo Brás
Conservador -restaurador da
Basílica |
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